Há quem se sinta orgulhoso em declarar: sou carente! Existe uma
enorme diferença entre acreditar que você está carente e se perceber
como uma pessoa carente. Uma condição é temporária, circunstancial,
enquanto que a outra é determinante, parte de sua personalidade.
Então, a partir de hoje, sugiro que você se disponha a no máximo
estar e não ser carente. Alguém que está carente está se percebendo sem
alguma coisa e sentindo falta disso. Portanto, é absolutamente
compreensível quando se usa o termo para expressar vontade de receber
carinho, atenção e amor. Inclusive, se a expressão for feita de modo
consciente, pode denotar maturidade e autoconhecimento.
Entretanto, é preciso cuidar para não cair na armadilha do excesso. A
linha que separa a dose gostosa e saudável da dose perigosa e sufocante
é tênue, quase imperceptível, especialmente para quem vive se sentindo
assim, carente.
O fato é que excesso de carência costuma se transformar em chatice. O
processo é mais ou menos assim: a pessoa começa a se sentir sem
atenção, sem carinho, abandonada, rejeitada e substituída por outras
pessoas ou situações. Sem saber como lidar com esses sentimentos, que
são dela mesma, culpa o outro. Pronto! A arapuca está armada!
Os próximos passos incluem cobrança, pressão, chantagem emocional,
percepção distorcida dos acontecimentos e das atitudes das pessoas,
julgamentos parciais, etc. Você começa a colocar-se no papel de vítima
da vida, chamando os parceiros de egoístas, insensíveis, e por aí vai…
Convenhamos, essas são atitudes totalmente ineficientes e
desastrosas. Só servem para que o carente consiga exata e justamente
aquilo que ele mais temia: afastar as pessoas que ele mais ama. Sim,
claro, porque quem gosta de ser cobrado, pressionado, julgado e acusado?
Como resolver o problema? Simples, embora nem sempre fácil, mas
proponha-se a tentar pelo menos. As chances de dar certo são grandes,
posso apostar! Pense
comigo: se você quer atrair um peixe para sua vara, o que faz? Vai até a
beira do rio e xinga o peixe? Grita com ele dizendo que ele deveria
estar ali à margem, para que você pudesse pegá-lo? Joga pedra nele?
Acusa-o de insensível por não perceber a sua fome e as suas
necessidades? Creio que não!
Você usaria como isca algo de que ele gosta, não é? Parece óbvio?
Então, use a mesma técnica para lidar com sua carência. Em primeiro
lugar, compreenda que quem está carente é você. A responsabilidade, em
princípio, é sua e não do outro. Você pode até solicitar a ajuda dele,
de forma inteligente, para aplacar sua necessidade de carinho e atenção,
mas o sentimento continua sendo seu!
Por isso, vasculhe dentro de si e procure as iscas que pode usar.
Dicas? Que tal se comportar como uma pessoa atraente e interessante? Que
tal bom humor, compreensão, companheirismo, elogios, um presentinho
talvez, mais paciência, mais empatia, mais gentileza? Mas tem de ser de
verdade e não falso, só para conseguir o que quer. Tem de ser seu, tem
de ser você!
Verdade seja dita: essas iscas podem não garantir que aquele (a) que
você quer seja fisgado (a), mas vão garantir sim que você não se
transforme num chato (a) ambulante! E se não for o que você quer, mais
cedo ou mais tarde, é bem provável que você termine pescando aquele (a)
que você nem imaginava que caberia no seu caminhãozinho.
Por: Dra. Rosana Braga
FONTE: http://novotempo.com/radio/2012/01/09/a-chatice-da-carencia-excessiva/