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quinta-feira, 31 de maio de 2012

A chatice da carência excessiva



Há quem se sinta orgulhoso em declarar: sou carente! Existe uma enorme diferença entre acreditar que você está carente e se perceber como uma pessoa carente. Uma condição é temporária, circunstancial, enquanto que a outra é determinante, parte de sua personalidade.
Então, a partir de hoje, sugiro que você se disponha a no máximo estar e não ser carente. Alguém que está carente está se percebendo sem alguma coisa e sentindo falta disso. Portanto, é absolutamente compreensível quando se usa o termo para expressar vontade de receber carinho, atenção e amor. Inclusive, se a expressão for feita de modo consciente, pode denotar maturidade e autoconhecimento.
Entretanto, é preciso cuidar para não cair na armadilha do excesso. A linha que separa a dose gostosa e saudável da dose perigosa e sufocante é tênue, quase imperceptível, especialmente para quem vive se sentindo assim, carente.
O fato é que excesso de carência costuma se transformar em chatice. O processo é mais ou menos assim: a pessoa começa a se sentir sem atenção, sem carinho, abandonada, rejeitada e substituída por outras pessoas ou situações. Sem saber como lidar com esses sentimentos, que são dela mesma, culpa o outro. Pronto! A arapuca está armada!
Os próximos passos incluem cobrança, pressão, chantagem emocional, percepção distorcida dos acontecimentos e das atitudes das pessoas, julgamentos parciais, etc. Você começa a colocar-se no papel de vítima da vida, chamando os parceiros de egoístas, insensíveis, e por aí vai…
Convenhamos, essas são atitudes totalmente ineficientes e desastrosas. Só servem para que o carente consiga exata e justamente aquilo que ele mais temia: afastar as pessoas que ele mais ama. Sim, claro, porque quem gosta de ser cobrado, pressionado, julgado e acusado?
Como resolver o problema? Simples, embora nem sempre fácil, mas proponha-se a tentar pelo menos. As chances de dar certo são grandes, posso apostar! Pense comigo: se você quer atrair um peixe para sua vara, o que faz? Vai até a beira do rio e xinga o peixe? Grita com ele dizendo que ele deveria estar ali à margem, para que você pudesse pegá-lo? Joga pedra nele? Acusa-o de insensível por não perceber a sua fome e as suas necessidades? Creio que não!
Você usaria como isca algo de que ele gosta, não é? Parece óbvio? Então, use a mesma técnica para lidar com sua carência. Em primeiro lugar, compreenda que quem está carente é você. A responsabilidade, em princípio, é sua e não do outro. Você pode até solicitar a ajuda dele, de forma inteligente, para aplacar sua necessidade de carinho e atenção, mas o sentimento continua sendo seu!
Por isso, vasculhe dentro de si e procure as iscas que pode usar. Dicas? Que tal se comportar como uma pessoa atraente e interessante? Que tal bom humor, compreensão, companheirismo, elogios, um presentinho talvez, mais paciência, mais empatia, mais gentileza? Mas tem de ser de verdade e não falso, só para conseguir o que quer. Tem de ser seu, tem de ser você!
Verdade seja dita: essas iscas podem não garantir que aquele (a) que você quer seja fisgado (a), mas vão garantir sim que você não se transforme num chato (a) ambulante! E se não for o que você quer, mais cedo ou mais tarde, é bem provável que você termine pescando aquele (a) que você nem imaginava que caberia no seu caminhãozinho.
Por: Dra. Rosana Braga
 
 
FONTE:  http://novotempo.com/radio/2012/01/09/a-chatice-da-carencia-excessiva/


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